sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Quando o vento sopra

Descanso minha alma
Que alquebrado plana
Acima dos capins macerados
Pelo sol que amarela
A tarde desaparecendo.

Uma brisa que fresca
Sopra acalma neste instante
Todos os meus tormentos.

Quero ser também o vento
A levantar torvelinhos
Pelos caminhos não andados
Por qualquer pensamento.

Sem sair do lugar

Nunca pode-se fugir
De si mesmo
Deste lago anoitecendo
Que cada vez mais
Vou caindo
Sem terras em meus pés.

Silêncio é companhia
Que umedece os lábios
Que secaram
Das febres passadas.

Viver é cair profundamente!

Que faço agora

Pelas janelas infinitas
Abaixo do céu de nuvens
Escuras
Uma mulher de pedra
Dança.

Uma criança por trás
Dos ferros não sorri mais
E parou de brincar.

Mas haverá em algum ponto
Um velho a mastigar
Seu cigarro de palha.
Nada mais importa
Se nenhum sonho
É possível sonhar.
Se amanhã não existe
A manhã se fez neste
Instante!

Caminhante

Sem procurar nada
Caminho sem nada buscar
Senão avançar adiante
Onde levam meus pés
Que jamais caminham
Numa linha reta
Procurando por coisa alguma.

Sem chegar nunca
Nunca sai deste lugar
Nem há onde possa ir
Sou vento soprando
Sou calmaria parando.


Vaga lembrança

Por onde andava
Andava também
Um restaurante coreano
Quando parei havia
Apenas uma lembrança
Que dissipava-se
Dos amores que se foram.

Visita-me às vezes
Visita-me o restaurante
Coreano.

As árvores

Estes galhos enegrecidos
Avançam seus braços
Sobre os carros
Que trafegam neste instante.
Sem consolo algum
Numa abraço de morte
E sugando a seiva de sangue
Dos homens
Só verde ficou
Manchando o chão
De asfalto.

No cal da desilusão

Pulsa incessantemente
No pulmão de cimento armado
O combustível queimado
Da fuligem dos carros
Que também pulsa
Em minha caixa de máquinas
Que falha a cada instante
Desta vida curta
Que só vale a pena
A vagabundagem poética
Das esquinas de minha
Cidade!

O destino tomado

Numa encruzilhada havia
Uma vela vermelha
Numa encruzilhada havia
Toda indecisão
Que direção tomar
Por isso ficou a chorar
Que decisão tomar
Não tomou
A velha queimou
E a vida se foi
Num soprar do vento
De um vento ladino.

Soprar pelos cantos

Que politicamente
Incorreto
Seja uma contradição
Destes tempos
Em que os ventos
Em desalinho
Procurem pelos cantos
Um caminho
Possível.

Quando nada mais diz

O que restou das formas
Instaladas
Desta arquitetura
Inventada no passado
Do que uma porção
De palavras que faço uso
Para dizer tão pouco?
Sombra de uma pedra
Que rolou com a água
Mas a insolência
Insiste em ficar.

Vivo agora

Foi por um lapso passageiro
Que passou em minha vista
Um risco vermelho
Que pensei ter sido
O passado de minha vida.

Mas não tenho lembrança
Alguma
Nem foto antiga
Nem história para
Contar.

Nasci neste mesmo
Momento
Que passei a me esquecer
Quando foi isso!

Quanto ao futuro
Que bobagens pensar
Naquele que não sei
Se pode acontecer.

Amigo do vento

Pelas vias mais simples
Simplesmente deixei a vida passar
Passou por uma porta
Pela outra também
E ninguém mais pode segurar
A areia fina esvaindo-se
Pela boca de um funil
O guizo que toca nesta hora
Soprado pelo vento
Só toca agora
Só toca neste momento.